“Então disse Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem”.
Aqui vemos o triunfo do amor redentor.
Note atentamente a palavra com a qual nosso texto começa.
“Então”.
O versículo que imediatamente o precede é lido assim: “E, quando chegaram ao
lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram e aos malfeitores, um, à direita, e
outro, à esquerda”. Então, disse Jesus, Pai, perdoa-lhes. “Então” – quando o
homem tinha feito o seu pior.
"Então” –
quando a vileza do coração humano foi demonstrada em maldade diabólica e
climatérica. “
Então” – quando com mãos
ímpias a criatura ousou crucificar o Senhor da glória. Ele poderia ter
expressado maldições terríveis sobre eles. Ele poderia ter lançado os raios da
justa ira e os matado. Ele poderia ter feito a terra abrir a sua boca, de forma
que eles caíssem vivos no abismo. Mas não. Embora sujeito à vergonha indizível,
embora sofrendo dor excruciante, embora desprezado, rejeitado, odiado; todavia,
ele clamou: “Pai, perdoa-lhes”. Esse era o triunfo do amor redentor. “O amor é
paciente, é benigno... tudo sofre... tudo suporta” (1Co 13, ARA). Assim foi
demonstrado na cruz.
Quando Sansão chegou na hora da sua morte, ele usou a grande
força do seu corpo para abarcar a destruição de seus antagonistas; mas aquele
que era perfeito exibiu a força de seu amor orando pelo perdão dos seus
inimigos. Graça inigualável! “Inigualável”, dizemos, pois nem mesmo Estevão
conseguiu seguir plenamente o exemplo bendito dado pelo Salvador.
Se o leitor
se voltar para Atos 7, descobrirá que o primeiro pensamento de Estevão foi
sobre si mesmo, e depois foi que orou pelos seus inimigos – “E apedrejaram a Estêvão, que em invocação
dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.
E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes
este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu” (At 7.59,60). Mas com Cristo a
ordem foi inversa: ele orou primeiro pelos seus adversários, e no final por si
mesmo.
Em todas as coisas ele tem a preeminência.
E agora, concluindo com uma palavra de aplicação e exortação. Se esse capítulo
estiver sendo lido por uma pessoa não salva, pedir-lhe-emos seriamente ponderar
bem a próxima sentença:
Quão terrível deve ser se opor a Cristo e à sua verdade
conscientemente! Aqueles que
crucificaram o Salvador não sabiam o que estavam fazendo. Mas, meu
leitor, há um sentido muito real e solene no qual isso é verdade com respeito a
você também.
Você sabe que deve receber a Cristo como seu Salvador, que deve
coroá-lo como Senhor de sua vida, que deve tornar a sua primeira e última
preocupação agradá-lo e glorificá-lo. Fique então avisado; seu perigo é grande.
Se você deliberadamente dá as costas a ele, dá as costas ao único que pode
salvá-lo dos seus pecados, e está escrito: “Porque, se pecarmos
voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não
resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo
e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (Hb 10.26,27).
Resta-nos apenas adicionar uma palavra sobre a bendita
inteireza do perdão divino. Muitos dentre o povo de Deus ficam intranquilos e
perturbados sobre esse ponto. Eles entendem como é que todos os pecados que
cometeram antes de receberem a Cristo como seu Salvador foram perdoados, mas
amiúde não estão livres de dúvidas com respeito aos pecados que cometem após
terem nascido de novo.
Muitos supõem que é possível para eles pecar de uma
forma que lhes coloque além do perdão que Deus lhes concedeu. Supõem que o
sangue de Cristo trata somente com o passado deles, e que até onde diz respeito
ao presente e ao futuro, eles tem que se cuidar por si mesmos.
Mas de que valor
seria um perdão que pode ser tirado de mim a qualquer momento? Certamente não
pode haver nenhuma paz estabelecida quando minha aceitação para com Deus e a
minha ida ao céu é feita dependente do meu agarrar-se a Cristo, ou da minha
obediência e fidelidade.
Bendito seja Deus, o perdão que ele concede cobre todos os
pecados – passados, presentes e futuros.
Amigo crente, Cristo não carregou os “seus” pecados em seu próprio corpo no
madeiro? E os seus pecados não eram todos futuros, quando ele morreu?
Certamente, pois naquele tempo você não tinha nascido, e não tinha cometido
nenhum pecado sequer. Muito bem então: Cristo verdadeiramente levou os seus
pecados “futuros” tanto quanto os seus pecados passados. O que a palavra de
Deus ensina é que a alma incrédula é tirada do lugar sem perdão para onde esse
está ligado.
Os cristãos são um povo perdoado. Diz o Espírito Santo: “Bem
aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado” (Rm 4.8). O crente está
em Cristo, e ali o pecado nunca nos será imputado novamente. Esse é o nosso
lugar ou posição diante de Deus. Em Cristo é onde ele nos contempla. E porque
estou em Cristo, estou completa e eternamente perdoado; tão perdoado que o
pecado nunca será mais será posto sobre mim como acusação no que toca à minha
salvação, mesmo que eu permanecesse na terra por mais cem anos. Eu estou fora
do alcance para sempre.
Ouça o testemunho da
escritura: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da
vossa carne, (Deus) vos vivificou juntamente com ele (Cristo), perdoando-vos
todas as ofensas” (Cl 2.13).
Observe as
duas coisas que são aqui unidas (e o que Deus ajuntou, não o separe o homem!) – minha união com um Cristo ressurreto é
conectada com o meu perdão! Se então minha vida está “oculta com Cristo em Deus”
(Cl 3.3), então eu estou fora para sempre do lugar onde a imputação do pecado é
aplicada.
Por conseguinte, está escrito: “Portanto, agora, nenhuma condenação
há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1) – como poderia existir, se “todas as ofensas”
foram perdoadas? Ninguém pode lançar nenhuma acusação contra os eleitos de Deus
(Rm 8.33).
Leitor cristão, junte-se ao escritor em louvor a Deus, pois nós
somos eternamente perdoados de tudo.
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br