quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CABEÇA CHEIA E CORAÇÃO VAZIO

Aprendi que erudição e piedade devem sempre andar juntas. Pelas minhas observações, vejo que poucos têm esta convicção. O que tenho percebido é que há muitos teólogos, mas poucos líderes comprometidos com os ensinos do Mestre. A maioria está mais preocupada em ler e produzir material do que vivenciar os princípios do evangelho da graça no dia a dia da igreja e da comunidade em volta.

Temos uma forte tendência de encher a nossa cabeça com princípios teológicos e o nosso coração ficar vazio de sentimentos cristãos. Precisamos unir o que sabemos com o que vivemos. A nossa cabeça deve transmitir para o coração as verdades assimiladas. Razão e emoção devem ser convergentes. Ensino e prática devem andar juntos. Nas regiões onde o evangelho esfriou (principalmente na Europa Ocidental), as cabeças estavam cheias de teologia e os corações, vazios. Temos uma forte tendência de ensinarmos o que não praticamos.

Pregamos profissionalmente e não devocionalmente. A pregação e o ensino devem ser fruto de intimidade com o Deus Sublime e Santo e o relacionamento rico com o outro. O saber deve resultar no viver. A mente tem a ver com o saber, mas o coração com o viver. A mente armazena e o coração processa pelas emoções.

O perigo é escrevermos textos fora da nossa realidade vivencial. Há escritores sem nenhuma simpatia, mas tentam passá-la nos seus textos. Teologia se faz no terreno da experiência com o Senhor e com o nosso próximo. Os melhores textos são aqueles que são produzidos com o coração fervente, envolvente e, ao mesmo tempo, transcendente. É muito fácil produzir textos a partir do mosteiro, da cela monástica sem nenhuma vida, apenas teorizações. Somos tentados a todo momento a sermos teóricos. Os escribas e fariseus eram mestres da religião, mas tão distantes do Senhor e do próximo.

Nós, os escritores simples ou sofisticados, temos a tendência ao isolacionismo, com profunda dificuldade nos relacionamentos. Há elementos que são antipáticos, antisociais e elitistas. A cultura que realmente satisfaz é aquela que é fruto da minha convivência com Deus e com o meu próximo. Na verdade, não temos paciência com pessoas que consideramos “chatas” como se não fossemos também. É insuportável do ponto vista humano conviver com pessoas com carências no relacionamento. É duro você ler um artigo ou um livro de alguém que não manifesta empatia, simpatia e amor. Como leitores e produtores de textos somos tendentes a vivermos em nossos casulos e esquecermos que o ser humano, feito à imagem e semelhança do Senhor, deve receber toda a nossa atenção.

Devemos ter cabeça cheia e coração cheio. Cabeça cheia de pensamentos positivos acerca do outro e de coisas excelentes (Fil 4.8) e coração cheio de amor para repartir. Como crentes, somos desafiados a ser como Jesus, que sempre foi manso e humilde de coração (Mt 11.29). Como leitores e escritores, sejamos alunos do Mestre Jesus, que sempre teve a Sua vida voltada para o alto, para o seu interior e para o próximo. Jesus é o nosso exemplo de coração cheio de amor e cabeça cheia de pensamentos positivos acerca de nós. A Sua mente e o Seu coração estavam debaixo da autoridade do Pai. Não era a Sua vontade, mas a vontade do Pai.

O teólogo é aquele que busca a profundidade do relacionamento com Deus e com o outro. Devemos aprender a ouvir o outro, mas principalmente ao Senhor. Na estrada da vida, o teólogo sempre encontra os caminhantes, os maltrapilhos com os quais ele deve se relacionar, amar profundamente em Cristo para então ter os subsídios para sua vida. Aqui está a riqueza da teologia que parte de cima e de baixo – Deus e o homem, Sua obra-prima tão amada. Sejamos homens e mulheres cujas mentes sejam a de Cristo (1 Co 2.16) e cujos corações tenham a paz de Cristo Jesus como o seu árbitro (Cl 3.15).

O nosso grande desafio é conciliarmos mente e coração à serviço dAquele que é a nossa inspiração constante. Glorificamos a Deus quando expressamos amor a Ele e amor ao nosso próximo – os dois pilares fundamentais do fazer teológico.

Que o Senhor encontre em nós, Seus obreiros das letras e do saber, amor para com os mais necessitados, os pequeninos. Eles devem ser sempre alvo do nosso amor, carinho e afeto – atitudes e ações que certamente nos motivarão para levantar o maltrapilho e produzir textos que edificarão vidas tão preciosas. Um dia fomos alcançados pela graça de Deus. E esta graça que deve nos bastar para levantarmos o outro, vivendo a coerência de Cristo, nosso amado Senhor.

Oswaldo Luiz Gomes Jacob

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